"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um pouquinho de jornalismo - parte 3

Samba da superação
Profissional do esporte e do carnaval, o angrense Chidonga volta à ativa depois de vencer uma grave doença

Por Hugo Oliveira
Diferente do carnaval, período quase sempre marcado pela alegria, o futebol apresenta dois lados distintos: o da felicidade e o da tristeza. Sabe aquela idéia de que o esporte citado é uma verdadeira caixinha de surpresas? Pura verdade. Em 2008, mesmo já aposentado como jogador, o professor de educação física Vicente de Paula, popularmente conhecido como “Chidonga”, foi intimado a participar de um jogo onde o placar já começava com um gol de diferença para o time adversário, que poderia facilmente ser chamado de “Câncer Futebol Clube”. A partida foi complicada, e ao longo do primeiro tempo, Chidonga, de 45 anos, morador do Balneário, teve que abrir mão de uma das coisas que mais gostava: desfilar nos blocos carnavalescos da cidade, poupando forças à segunda parte do combate. Para alguém que diz respirar carnaval o ano inteiro, o preço a pagar não foi barato. Mesmo assim, correndo pelos misteriosos gramados da vida, o torcedor do Fluminense e atual presidente do Bloco Malhação, da Fortaleza, ousou misturar a ginga de mestre-sala ao verdadeiro arsenal ainda presente nos pés do ponta-de-lança – não africano, mas, angrense –, o que resultou numa vitória de virada contra a equipe rival.
Neste ano, Chidonga está de volta ao carnaval do município. Ele vai desfilar pelo Bloco da Imprensa com sua inseparável companheira, a porta-bandeira Bia. O gol que sofreu no duelo pela vida deixou algumas cicatrizes – precisa de uma operação para levar uma vida completamente normal –, mas ele não desanima: toca a bola pra frente com samba no pé e sorriso no rosto... E narra sua vitoriosa trajetória ao jornal Maré Alta.

Fora do campo – e da avenida
Chidonga deu um chute na doença; eu, mais humilde, mando um bico na imparcialidade jornalística: conversei com ele na última segunda, dia 2 de fevereiro, às 17h. O local escolhido para a entrevista – e para a sessão de fotos – foi o Estádio Municipal, que na ocasião, estava completamente vazio. Talvez o ex-atleta da bola não tenha percebido, mas assim que começamos a papear, o som característico de fogos de artifício ecoou forte, por todo o bairro do Balneário. Coincidência ou saudações divinas? Você é quem decide, caro (a) leitor (a). Pelo menos em relação a Chidonga, ele demonstra saber o quão importante foi o poder da fé em sua recuperação. “Primeiramente coloquei o meu problema na mão de Deus, depois, nas mãos dos médicos que me atenderam, e que foram guiados por ele”, declara. Tanto a descoberta da doença quanto a constatação de que não desfilaria no carnaval de 2008 foram momentos difíceis para o alegre entusiasta do samba, mas ele não abaixou a cabeça. “Foi difícil de lidar com o sentimento de não desfilar, mesmo assim, cheguei a declarar, em uma entrevista na época da doença, que ‘papai do céu vai me abençoar, e ano que vem estarei aí’”. Depois de uma longa cirurgia e de 30 longuíssimas – mas necessárias – sessões de quimioterapia, a profecia de Chidonga se cumpriu, e 2009 é o ano dele. “A expectativa para o carnaval deste ano é ótima. Espero que a gente fortaleça a festa deste ano, com muita paz, tranqüilidade e alegria”. Já no futebol, apesar de ainda não poder jogar, também existem motivos para sorrir, já que a atividade como professor continua, além do trabalho com o núcleo do Fluminense em Angra. Nada como um dia após o outro...



Surpresas, homenagens e “um abraço”
Um dos primeiros passos à volta de Chidonga ao carnaval foi dado no dia 30 de janeiro, no Armazen Angra. Durante o evento que escolheu o samba oficial do Bloco da Imprensa, ele mostrou que o gingado de mestre-sala não foi esquecido, e deu uma prévia de como será sua participação na festa, em 2009. “Senti uma emoção muito grande em participar do evento do Bloco da Imprensa. Eu estou preparando uma surpresinha para a avenida, mas o melhor será participar do evento estando bem, com alegria e emoção”. Falando em emoção, é ele quem informa sobre a homenagem que irá receber de uma das agremiações da cidade. “Vou ser homenageado pelo Bloco Sujos de Lama, e fiquei muito feliz por eles terem me procurado”. Chidonga é um cara simples, do tipo que ainda se empolga quando vê uma pipa avoada. “Aí, Leco, olha a pipa ali, cheia de linha... Vai, rápido, antes que a molecada pegue”, ele sugere ao amigo que estava ao seu lado, um pouco antes de nossa entrevista começar. A história dele com o futebol começou no bairro onde nasceu, ainda garoto, jogando num campinho de areia que não existe mais – onde hoje está localizado o Estádio Municipal. Depois vieram os jogos por times da cidade, a vitória em vários campeonatos e a passagem para o outro lado do esporte, quando começou a trabalhar como instrutor. Já o envolvimento com o carnaval vem de berço: desde pequeno gostava de sambar, e depois da primeira participação num um bloco de Angra, não parou mais. Em ambas as atividades, o que se destaca é o jeito tranqüilo de lidar com os problemas do dia-a-dia, típico de um sujeito que, ao vencer o câncer, declarou. “Ganhei de você. Um abraço”. 


 
 Por Hugo Oliveira




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