"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 26 de maio de 2011

But you know, I know when it's a dream

Assistir ao Paul McCartney sempre foi um sonho que eu julgava distante, e quem diria que conseguiria vivê-lo duas vezes em um período de seis meses? Não adianta, seja qual for sua banda preferida, por mais que vê-la ao vivo seja impactante e emocionante, nada se compara a um show do Macca. Assisti ao Radiohead e ao R.E.M. e foram apresentações marcantes demais, mas ver o Paul é diferente. E não digo isso por achar os Beatles maiores do que qualquer outra banda. Meu primo Fábio, que gosta mais de Pink Floyd, assistiu ao Roger Waters e sentiu esta diferença a que me referi ao ver o Paul McCartney.

Esse show foi diferente do primeiro, apesar de o repertório ter sido praticamente o mesmo. Em primeiro lugar – e achei que nunca falaria isso – dessa vez estava sóbrio e isso fez totalmente a diferença, puder perceber mais detalhes e aproveitar mais o show. Foi também um programa família, fomos eu, meu irmão, minha irmã e meu pai. E estar com meu pai num show de um beatle é algo indescritível, foi ele quem me apresentou a banda, sempre me contou as histórias, alimentou a paixão que sinto por eles e, em consequência, por rock n’ roll em geral. E por fim, assistir ao show em casa é diferente, e quando digo “em casa” não é só por ser no Rio e sim no Engenhão, a minha casa. Beatles e Botafogo juntos é de um poder e simbologia extraordinários para mim.

Sobre o show é difícil uma análise técnica ou racional. Simplesmente porque são anos lendo livros, artigos e diversos textos sobre os Beatles; filmes assistidos; discussões com os amigos; e principalmente os discos ouvidos e as canções de trilha sonora dos mais diversos momentos da vida. E quando se está frente a frente com um beatle cantando parte dessas músicas, a voz, o rosto, os trejeitos que são parte integrante do seu inconsciente ali, tão perto, nada que não seja coração ou feeling importa.

São muitos os momentos a seres destacados. A surpresa da abertura com “Hello, Goodbye”; meu pai reagindo como um menino, empolgado com cada canção que ele ouve desde sua infância, só posso imaginar o filme que passou por sua cabeça em “All my loving”, por exemplo; o deslumbramento de minha irmã, e meu irmão mais uma vez emocionado com o que estava presenciando; e principalmente, “The long and winding road”. Esta é uma das canções mais bonitas de todos os tempos e neste show marcou um momento para ser lembrado para o resto da vida: um instante em que eu e meu pai, normalmente tão fechados e contidos, estivemos integrados, juntos na mesma sintonia, na mesma emoção.

O primeiro show do Paul, em novembro do ano passado, já havia sido maravilhoso, mas ficou marcado por uma volta à realidade turbulenta, logo que voltei tipo que lidar com alguns reveses que reverberam até hoje por aqui. E sinto que esta segunda apresentação veio marcar o início de uma nova fase, de superação e novas perspectivas. È clichê e melodramático, mas naquele momento de emoção, senti como se as palavras de “Let it be” estivessem sendo cantadas para mim. E ao sentir Paul McCartney cantando as mudanças voltei à vida real dessa vez mais feliz e confiante que, mesmo que seja um longo e tortuoso caminho, ainda há uma luz que brilha em mim e pode continuar brilhando.

"Limitless undying love, which shines around me like a million suns"
 Por Ricardo Pereira

3 comentários:

  1. É para o resto das nossas vidas.
    The long and winding road
    That leads to your door
    Will never disappear.

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  2. Adorei o que vc escreveu, Ricardo. Senti o mesmo quando vi o Paul aqui em Londres. Eu, por um lado, adoraria ir com a minha mãe. Deve ter sido mágico. Acho que o show do Paul é sempre mágico!

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  3. Oi, Bruna, há quanto tempo! Bom ver você por aqui, obrigado! E é isso mesmo, mágica é a palavra!

    Beijo,

    Ricardo

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