"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Existem canções...


Mesmo quando morava sozinho na época da faculdade mantinha meus cds divididos, levava uns para o Rio, geralmente os que mais ouvia no momento, e deixava grande parte deles na casa dos meus pais. Quando me mudei, fui morar sozinho, tive que carregar meus discos comigo. Mas alguns não havia como tirar da casa deles, por razões sentimentais ou pelo fato de eles ouvirem tanto ou até mais do que eu. Entre esses estavam os discos da Legião Urbana.

Resolvi então comprar a caixa lançada ano passado com todos os discos de estúdio da banda. Pra começar, devo dizer que a gravadora caprichou no material, tá tudo muito bonito e além de ótimos textos e fotos novas para cada disco, mantiveram o encarte muito parecido com o original, o que atingiu em cheio minha nostalgia.

Quem me conhece talvez imaginasse que eu começaria ou em ordem cronológica, por ser sistemático, ou pelo ‘V’, meu preferido da banda. Mas preferi ouvir primeiro o ‘Quatro Estações’, álbum de 89 que contém o maior número de hits dentre todos da banda. Mas nem foi por isso, mas pelo fato de, ao olhar para o encarte, sentir uma saudade danada da época em que mais ouvia este disco.

Não pretendo aqui fazer uma análise crítica do disco, de suas canções, isso muita gente já fez melhor e pior do que eu faria, pretendo apenas falar do quanto, depois de tanto tempo, cada música tão conhecida ainda bate tão forte.

É um dos discos cuja gravação original mais me incomoda, e tenho que dizer que a remasterização (aquela mesma de 95, em Abbey Road) melhorou bastante o som do disco. Ele começa simplesmente com ‘Há Tempos’, que é uma das letras que mais gosto da Legião. E, no meio dela, um verso piscou faiscante: “Muitos temores nascem do cansaço e da solidão”. Um verso que o próprio Renato Russo admite no encarte ter retirado de um texto de 1600 e alguma coisa e que de repente me fez pensar o quanto ilustra muito do que venho sentindo/passado recentemente.

Há canções muito bonitas, mas que acabamos não prestando mais tanta atenção pelo tanto que tocaram como ‘Quando o sol bater na janela do teu quarto’ e a colagem intertextual ‘Monte Castelo’, e que, ouvindo com atenção agora, revelaram-se tão belas quanto eu devia achar nos meus 9, 10 anos...

E o finalzinho do disco ali com ‘Maurício’, que eu gosto demais e não consigo enjoar, talvez por ser tão fechadinha e retratar aquele tipo de angústia ultrarromântica que eu cismo de cultivar; ‘Sete cidades’, canção de amor à distância que sempre se faz relevante pelo tanto deles que eu tive, e ‘Se fiquei esperando meu amor passar’, que, quando criança, eu achava o máximo encerrar o disco com os versos que minha avó Maria cantava e gravou numa fitinha quando lhe oferecemos um microfone: “Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo...”.

É o álbum da Legião Urbana ‘sobre o amor’, por mais que haja muitos momentos políticos nas faixas e que em outros discos a questão amorosa se faça presente de forma marcante, é neste que se realiza de maneira mais consistente. E ao pensar na enorme influência que as sucessivas audições deste disco possam ter tido sobre minha formação, bate um inevitável desejo (esperança?) de que um dia eu consiga novamente acreditar no amor de forma parecida com o que sentia ainda tão jovem ao ouvir essas canções.


 Por Ricardo Pereira

4 comentários:

  1. Perdeu Playboy, os "meus" Cds da Legião estão amparados pela Lei de Usucapião.
    Além do mais você passou a gostar da Legião ouvindo meus bolachões de vinil da Banda. Seu bom gosto musical, sem querer ser pretensioso está no DNA.
    Bjs.

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  2. Valeu, Hugão!

    haha É verdade, pai, tenho que concordar rs

    Ricardo

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  3. Oi meninos!!!

    Muito bom os textos e as músicas postadas aqui!

    Tocam a alma!

    um beijo

    Grazi

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