"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 17 de maio de 2011

Toque Dela - Marcelo Camelo



Toque Dela, segundo álbum solo de Marcelo Camelo, segue o caminho natural que suas composições, no Quatro e em Sou, apontavam. É um conjunto de canções tranquilo, reflexivo, cada vez mais distante do universo rock n’ roll.

As viúvas do Los Hermanos provavelmente se frustrarão já na primeira música, “A Noite”, uma espécie de marcha-rancho em slow motion, bela, mas lenta, modorrenta. Imagino quantos não desistiram de cara, sem nem ouvirem o restante das faixas.

Porém, este não é um disco para ouvintes imediatistas. O tempo, as sucessivas audições só fazem bem às canções, revelando aos poucos seus encantos e belezas. Justamente por isso, dificilmente quem não gosta do cantor vai mudar de opinião com esse disco.

Camelo insiste em letras de um campo semântico próprio da MPB tradicional, daí a presença de ‘morenas’ e temas marítimos. “Despedida”, que aqui aparece em versão bem melhor do que a de Maria Rita, poderia fazer parte do Álbum Branco do Caetano, por exemplo.

Outro tema recorrente na obra do compositor é a solidão. E aqui ela aparece, mas esse é um disco muito mais do encontro, da descoberta, do “estar junto”, como atestam as duas melhores canções do álbum, a malemolente “Acostumar” e “Vermelho”, momento mais bonito e minha letra preferida do disco. As duas apresentam marcante presença dos metais, artifício deixado de lado por Camelo em seu primeiro álbum solo e que aqui se faz presente em quase todas as músicas.

Enquanto Sou é um disco com algumas excelentes canções, mas longo e, por vezes, cansativo, Toque Dela é mais enxuto, funciona melhor como álbum. E é uma espécie de afirmação artística de um compositor que se destaca dos “grandes nomes” da MPB recente por carregar uma inquietação criadora e seguir seu caminho independente do que o seu público espera ou das circunstâncias mercadológicas.

hoje eu vim pelo mar naveguei de volta / só passei pra falar que eu não vi resposta
 Por Ricardo Pereira


Um comentário:

  1. "...inquietação criadora...". É disso que eu gosto. Agente espera com ansiedade o próximo trabalho, sem saber (sabendo) o que esperar.

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