"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sem Fantasia

Ando sumido daqui. Postagens esporádicas, chegando a recorrer ao Drummond e ao Rubem Fonseca semana passada. E não é por falta de assunto. O que não falta é tema que gostaria de – e devo – falar nos próximos dias: o excelente disco novo do Arctic Monkeys; a triste despedida de Ronaldo dos gramados com a camisa da seleção; o quanto esta seleção da CBF que aí está não me causa empatia alguma – e dá-lhe Uruguai na Copa América!; a beleza que é Fringe, que só agora estou assistindo; a notícia que o canal Viva vai passar Roque Santeiro, a melhor novela que a Globo produziu; falar sobre o prazer e o privilégio de poder acompanhar um atleta tão genial quanto Roger Federer; o quanto ando incomodado com as pessoas cada vez mais preocupadas com imagem e aparência; um texto sobre o Amor como objetivo de vida, a partir de um exemplo que muito me sensibilizou. Enfim, tema não falta, o que falta é os textos saírem.

Mas o que de mais relevante anda acontecendo por aqui estes dias é a leitura da biografia de Dostoievski (a do Joseph Frank), estou terminando o primeiro volume de cinco. Além de estar aprendendo bastante e engrandecendo ainda mais minhas leituras dos romances dostoievskianos, ando me identificando com algumas características pessoais do escritor, e infelizmente características não tão lisonjeiras... Mas fiquei particularmente incomodado com a possibilidade de identificação não com o próprio, mas com a definição de uma espécie de “sonhador”, homens de um caráter pouco prático, presentes na sociedade russa dos anos de 1840, que Dostoievski descreve em um folhetim seu publicado na imprensa.

Este tipo de homem foge do mundo real a partir de “ilusões, quimeras inventadas, devaneios (metchtátelnost) e todos aqueles outros remédios com os quais as pessoas tentam preencher de algum modo o entediante vazio de sua vida cotidiana”. Este sonhador teria tendência à solidão e a um temperamento instável, incapaz de um esforço constante, criando subterfúgios para viver em um mundo de ilusão, mais interessante do que a realidade. E nas palavras do autor: “Pouco a pouco, nosso pequeno travesso começa a fugir das multidões, a esquivar-se aos interesses das pessoas e, gradualmente, quase sem perceber, seu talento para a vida real começa a embotar-se. Finalmente, em seu delírio, perde completamente o senso moral que confere a um homem a capacidade de apreciar toda a beleza da realidade...”.

Obviamente não me enquadro literalmente nesta definição, meu próprio trabalho felizmente me força a estar em contato com o “mundo real”, mas o provocativo desfecho do texto de Dostoievski – “não seremos todos mais ou menos sonhadores?” – me deixou a pensar no quanto não passo parte do tempo a alimentar-me de sonhos e no que posso fazer para enfrentar a vida de forma mais prática e efetiva.

Por Ricardo Pereira

3 comentários:

  1. o que seria da vida sem os sonhos!?

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  2. Além desse post me fazer ficar com mais vontade de ler Dostoievski, me deixou meio preocupada, tenho alguns desses sintomas (senão todos, rsrs).

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  3. Verdade Grazi! A preocupação é com o excesso deles rs

    Oi Mayra, essa biografia do Dostoievski é sensacional, ainda estou no primeiro volume e sinto que até o final terei vontade de reler tudo dele... rs E também me preocupei com o excesso de identificação com os sintomas mencionados. Pode ser perigoso rs

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