"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Northern Portrait ou Como fazer uma "viúva" do The Smiths feliz

O Ministério da Saúde Musical adverte: não há nada de novo no primeiro disco "cheio" da banda dinamarquesa Northern Portrait, "Criminal art lovers", lançado em janeiro de 2010 pelo selo Matinée Records. Por outro lado, existe um amontoado de particularidades relativas ao CD que tem feito o fator "arrepiamento" chegar a níveis extraordinários.
Estou falando dos pêlos do meu braço... Mas poderia/pode ser o do seu. Na dez canções do grupo encabeçado pelo vocalista e guitarrista Stefan Larsen, não se ouvem apenas ecos do Smiths - acima de tudo -, como a maioria das publicações digitais vem alardeando. Na verdade, o que se escuta é o som de um conjunto que, mesmo que não intencionalmente, apresenta influências de bandas diversas como  Gene, Idlewild e Popundret, estas, absolutamente inspiradas no trabalho do quarteto oitentista mais famoso de Manchester. Dã!
Não sei se deu para entender - tem tanto tempo que eu não escrevo aqui que acho que já até perdi o jeito. O que quero dizer é que o lance da influência/homenagem/chupação direta já atingiu outros níveis. Agora, não é necessário ir direto à fonte. Outros já fizeram o "trabalho sujo", e por vezes, conseguiram aparar certas arestas... Mesmo que nem sempre as canções sejam obras-primas. É o caso do Northern Portrait. A impressão que se tem, ouvindo o álbum, é que nem mesmo as guitarras de Johnny Marr, guitarrista e compositor dos "Silvas", conseguiram soar tão brilhantes quanto as que são tocadas por Stefan e Jesper Bonde. A cozinha formada pelo baixista Caspar Bock e o baterista Michael Sorensen também merece destaque, fazendo uma cama perfeita para o pessoal das seis cordas deitar e rolar num jingle jangle que faz o sol brilhar a qualquer momento. Basta apenas colocar o fone... E sorrir.
Está achando que é exagero? Talvez. Vou tentar explicar. Mantenho uma relação doentia com guitar bands à Smiths. Coisa de louco mesmo. Obssessão. É só ouvir alguém cantando letras sobre relacionamentos, com uma guitarrinha dedilhada, estalando - Rickenbaker ou semi-acústica, de preferência -, pronto: lá se vai o senso crítico pra vala. Eu tenho noção de que a maioria desses imitadores dos Smiths não vai dar em nada. Dois, três disquinhos simpáticos e tchau. Mesmo assim eu insisto. E ganho lá as minhas recompensas sonoras.
As 10 canções de "Criminal art lovers" são como amores de verão. Dez Meninas lindas, inteligentes, boas de papo. Você se apaixona por 5, 7 dias... Mas sabe que vai esquecer em pouco tempo. Mesmo assim, quando algum amigo fizer menção ao affair, você vai falar algo do tipo. "Putz, aquela menina era mesmo demais... Sempre vou me lembrar com carinho".
As dez primeiras faixas do álbum formam a melhor abertura de um disco que eu ouvi em meses. Peraê: mas o disco tem dez músicas! Bingo: é tudo tão bom e tão chiclete - e tão igual, não poderia deixar de mencionar - que não dá para destacar alguma canção específica.
Ainda não tive tempo de dar uma analisada nas letras, mas acredito, pelos trechos que venho pescando em cada audição, que é um disco sobre relacionamentos. Não poderia ser diferente. O amor - ou a ausência dele - e suas implicações vem sendo pano para a manga da música pop desde sempre... E a música pop tem regras que não devem ser quebradas, correto?
Ouvir o début  do Northern Portrait é dirigir um carro conversível - vermelho - a toda velocidade, em alguma autoestrada deserta. Vento batendo nos cabelos. Velhas fotografias e lembranças sendo jogadas ao léu. Lágrimas e sorrisos no rosto. Sem destino.


    Faixas
  1. The Münchhausen In Me
  2. When Goodness Falls  
  3. Crazy
  4. The Operation Worked But The Patient Died
  5. Criminal Art Lovers  
  6. Life Returns To Normal
  7. Murder Weapon  
  8. What Happens Next?
  9. That's When My Headaches Begin
  10. New Favourite Moment 




"Criminal art lovers": um disco para chamar de seu


Por Hugo Oliveira

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