"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sábado, 15 de outubro de 2011

O encontro e o confronto

Algumas coisas nos fazem ter exata noção do tamanho de nossa insignificância. Comigo já aconteceu por diversos motivos, como ao ler a biografia do mestre João Saldanha e ver o quanto/e como ele fez nesse mundo e pensar em como sou vazio, por exemplo; ou mesmo ao presenciar momentos de solidariedade e me questionar se eu seria capaz de algo próximo ao menos.

E acabo de passar por um desses momentos, pois assisti ao documentário Três irmãos de sangue, filme sobre os irmãos Henfil, Betinho e Chico Mário, três sujeitos fantásticos, talentosos e sensíveis, que nasceram hemofílicos e terminaram vítimas da AIDS. O filme percorre a biografia dos três, abordando sua importância artística e social, e além de reafirmar o quanto foram produtivos em suas respectivas áreas de atuação, é um filme político – como não poderia deixar de ser –, equilibrando emoção e razão para tratar de liberdade, justiça, solidariedade e amor ao Brasil e às pessoas.

E entre tanto a se refletir, acabei em mais um incômodo reconhecimento de meu egoísmo. Já no começo do filme, Betinho aparece levantando a bandeira da “ação”, falando sobre a importância das pessoas serem menos teóricas e agirem mais, e foi impossível não pensar no quanto, hoje, ando o extremo oposto disso aí, vivendo fechado não só no meu apartamento, mas cada vez mais dentro de mim. E mesmo em reflexões sobre a beleza e a necessidade de se aproveitar cada momento da vida, acabei me vendo ao contrário.

Até porque é natural que eu me questione de que maneira vim parar em como me encontro atualmente. Há muito venho vasculhando como venho levando minha vida de forma egocêntrica e as consequências disso. Até quando penso em meus relacionamentos amorosos ‘de verdade’, vejo o quanto agi de forma egoísta e o quanto isso na verdade pode ter sido a causa dos rompimentos – “todo amor que eu amei, no fundo eu dediquei a mim e a mais ninguém”, sabe?

E, sem precisar pensar muito, fica claro o quanto essa característica é na verdade a gênese de minha solidão atual, o que me fez chegar ao ponto de não conseguir me aproximar mais das pessoas – e não é só de relacionamentos amorosos que falo aqui – e nem deixar que se aproximem. Há uma passagem bem emocionante no filme que mostra uma fita que Betinho gravou para a mãe quando estava no exílio, mandando notícias e tranquilizando-a de que estava vivo. E ao falar do irmão Chico Mário, diz que ele está um músico e cantor cada vez melhor, mas deveria melhorar como letrista. Em sua concepção isso acontecia porque o irmão vivia a vida como quem estava a assistindo...

Recomendo a todos que procurem o filme, não há como não se sentir mexido com pelo menos algum dos aspectos abordados neste bonito documentário. A vida desses três brasileiros tem muito a acrescentar e pode servir de reflexão sobre como andamos levando nossa vida. Mesmo que às vezes sejamos levados a uma espécie de autoanálise rasteira e, errr, egocêntrica como esta que acabo de cometer.

Chico, Henfil e Betinho

Este texto é dedicado à Ingrid, grande amiga tão querida – e botafoguense! – que me indicou o filme há anos atrás e com quem, se não estivéssemos distantes espacialmente, certamente desenvolveria melhor os temas abordados aqui, em uma de nossas intermináveis conversas.  

Por Ricardo Pereira

4 comentários:

  1. Corajoso vc se espor assim, fico até sem jeito do q falar sem conhecer vc, só q parece q conheço através do q vc escreve.
    Vc se cobra mt, tenta ser mais relaxado com as coisas, a vida fica mais fácil eu acho.
    Desculpa se estou me intometendo mt, adoro seus textos. Vou procurar o filme.
    Michelle Tavares

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  2. Mano Ricardo... Lindo texto, cara. Se me permite, concordo com cada palavra que você colocou nele. Abraços e saudade!

    Obs: esse documentário é FODA demais... Emocionante.

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  3. Oi Michelle, obrigado pelo elogio. Não precisa se preocupar, a partir do momento que publico aqui, tem todo o direito de se intrometer :)

    Oi, Hugo, que bom que gostou, cara! Verdade, é foda demais mesmo! Abs

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