"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 22 de março de 2012

As várias pontas de uma estrela


Não há nada que me orgulhe mais na vida do que torcer pelo Botafogo, ser botafoguense. Talvez esta afirmação soe estranha para o leitor costumaz deste espaço normalmente dedicado à cultura pop ou a projetos de contos. Mas a verdade é que o futebol ocupa um espaço primordial – e, muitas vezes, pouco saudável – em minha vida.

Costumo dizer que a intensidade de meu amor pelo Botafogo é a parte que me cabe de irracionalidade. Assim, como há os que são apaixonados por bichos, conversam com plantas, cheiram cocaína ou são aficionados por “esportes” cujo objetivo é a agressão a um oponente, minha afeição pelo Botafogo não pode ser medida em termos racionais.

Sou do tipo que agradece todo dia pela Estrela Solitária ter me escolhido, provavelmente no limbo espaço-temporal que antecede a concepção, como um de seus adeptos, não tão numerosos, justamente por selecionados, diferenciados.

No entanto, ontem, fiquei triste assistindo à patética classificação do Botafogo para a segunda fase da Copa do Brasil, nos pênaltis, após empate no tempo normal, contra o Treze de Campina Grande. Enquanto meu pai acompanhava a partida nervoso de sua casa; meu amigo Pedro, em São Januário, assistia ao jogo do Vasco “puto”, segundo suas palavras; eu só consegui sentir tristeza, misturada a um tanto de aflição.

Além de acompanhar, mais do que religiosamente, o dia a dia do clube, sempre assisto, ouço e leio, com orgulho e prazer, as histórias do passado glorioso do Botafogo de Futebol e Regatas: os jogos épicos, as equipes históricas, a vida e obra de tantos ídolos – de fora e dentro de campo. E, por tudo isso, sinto tanta tristeza em presenciar ao processo de apequenamento por que o clube passa. Reversível ainda, mas não se as esperanças estiverem a cargo dos homens que comandam o futebol alvinegro hoje.

De forma até infantil, gostaria que os jogadores, comissão técnica e, principalmente, os dirigentes sentissem – saber não basta, alguns seriam capazes de rir e debochar entre uma refeição e outra – sim, que pudessem sentir a tristeza com que fui me deitar ontem e a vergonha que senti hoje cedo ao sair para o trabalho.

Ontem, ao defender a última cobrança de penalidade, cobrada de forma extravagante pelo jogador do Treze, Jefferson, melhor goleiro brasileiro da atualidade e um dos poucos em General Severiano a honrar a camisa que veste, dirigiu-se ao adversário aos gritos de “Aqui não!”. Conhecedor de seu caráter humilde, proporcional a seu talento, imagino que o arqueiro precisava extravasar seu desgosto com o que acabara de ver em campo, com o que estão fazendo com um dos maiores clubes da história do futebol, e acabou sobrando para o pobre do jogador da equipe paraibana.

Independente do que o futuro venha a reservar, enquanto estiver vivo, estarei com o Botafogo, que é para mim algo em minhas veias, mais sangue que o sangue. (Aliás, lembro de que, nos meus devaneios durante as longas viagens de Bangu ao Fundão, no começo da faculdade, fantasiava o desejo de poder sangrar preto e branco...

O que sei é que aquele não é o Botafogo. E, para o bem do futebol brasileiro – e da saúde emocional (e, por que não dizer, física?) de tantos alvinegros – que a corja que denigre e vilipendia este patrimônio do esporte mundial possa se afastar para que tenhamos o verdadeiro Botafogo de volta. Faço, então, minhas as palavras de meu goleiro: “Aqui não!”.


Por Ricardo Pereira

2 comentários:

  1. Ricardo, você traduziu em palavras todas as emoções daqueles que realmente vivem por essa Estrela. Essa é a indignação que precisamos representar, e não essa demonstração de abandono que a maior parte da nossa torcida vem demonstrando. o Botafogo é, acima de tudo e de todos, a nossa maior paixão. Que esse texto toque o coração de cada alvinegro, e faça perceber que nosso time precisa mais do que patrocínios e craques.

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  2. Olá Ricardo! Saudações Alvinegras.

    De fato vc soube de forma clara e objetiva transpassar para o seu texto toda a sensação de indignação que é o que eu também sinto e acredito que a maioria do torcedor alvinegro deva sentir nos dias de hoje. No Blog do UOL temos discussões acaloradas sobre todos os passos que o nosso clube tem dado. O ùltimo BOTAFOGO do qual eu e meus amigos alvinegros fazemos referência como grande clube , foi o que o CUCA era técnico. O ùltimo momento real de grandeza do nosso fogão foi a cavadinha de LOCO contra o Bruno do FLA. Há quantos anos não produzimos um verdadeiro craque? Há de se mudar a filosofia, o entendimento, o direcionamento do futebol alvinegro para que retomemos o nosso verdadeiro lugar na HISTÓRIA do futebol brasileiro. Abraços e "TAMU JUNTO" companheiro alvinegro. Sebastião Queiroz "EL LOBO"-No BlogAlvinegro do UOL

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