"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O mundo adolescente e a criação do mundo – Fita 2016


Diálogo de dois pais ao final da peça:

– Sua filha deve estar junto com a minha, lá dentro, tirando foto.
– É verdade. Escuta só! (Barulho de multidão gritando).
– Tá doido! Eu não gosto desse negócio de teatro, ator de “Malhação”...
– Nem eu!

Mas suas filhas gostam. Assim como as centenas de filhas, filhos e – sim! – pais que abarrotaram o Palco Sesc – Mostra de sucesso, na Praia do Anil, às 19h30, para assistir ao espetáculo Sempre amigos, em estreia nacional. Com o texto e a direção de Pedro Jones, a peça ofereceu uma história de amizade e amor com temática adolescente.

Os atores Camila Mayrink, Guilherme Hamacek e Rafael Vitti ensaiaram direitinho para interpretar os papeis de três “BFF” – pergunte o significado para sua filha / filho adolescente – que se veem num confuso triangulo amoroso. Show, quem deu mesmo, foi a plateia. Desde o começo, quando a maior fila para entrar num espetáculo da Fita 2016 foi formada, passando pelas manifestações histéricas da ala feminina, que urrava de alegria e prazer cada vez que o ator Raf... EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE entrava em cena, o que se viu foi um ambiente bem diferente dos solenes locais que recebem espetáculos do tipo. Eu entrei meio desconfiado, mas acabei curtindo aquela loucura toda.

– Tio, tio! Você pode me ajudar? Eu e minhas amigas não estamos conseguindo achar os nossos lugares, perguntou uma menina de uns 12 anos, que não tirava os olhos do meu crachá.
– Tio? Que isso, menina! Tá bom... Deixa ver se consigo te dar uma força, eu disse, tentando encontrar a fileira relacionada ao número de série dos ingressos.
 – Ah, você não é da organização tio, é da imprensa. Deixa pra lá.

Acabaram-se aí os meus cinco minutos de fama – mais sorte teve o jornalista Marcos Landim, da TV Rio Sul, que foi requisitado pela molecada a posar para fotos.
Molecagem à parte, a peça foi correta, e ainda passou uma mensagem bonita ao público presente: corra atrás dos seus sonhos, já que ninguém melhor do que você para lutar por eles.

Contanto que não seja namorar o galã da peça, que fez questão de mostrar que é comprometido. #adolescenteschateados.


Sempre amigos



Como o show tem que continuar, mais tarde, às 22h, o bonde do teatro seguiu para o Teatro Municipal de Angra dos Reis, onde foi encenada a peça A cabaça da existência. O elenco formado por Junio Bastos, Letícia Mendes, Ramon Souza e Vitória Lopes também era bem jovem, mas a temática do espetáculo foi de gente grande: a criação do mundo de acordo com um conto africano.

Como a própria diretora, Camila Rocha, explicou ao final da peça, o espetáculo foi estendido para caber no formato da Fita. Talvez isto tenha acarretado um grande problema, já que os trechos mais musicais, em que os personagens cantavam e dançavam, alongavam-se por muito tempo – mesmo sendo efetuados com beleza e total domínio de expressão corporal pelo elenco.

A dicção de alguns atores – dos meninos, principalmente – também precisa melhorar, mas isto é apenas um detalhe. O que importa é que a mensagem simples e também emocionante do espetáculo – ancorada pela ótima trilha sonora de Jorge Moreno Filho, o “Etiópia” –, de que Deus não é um ser vingativo, mas sim, uma entidade cheia de bondade e amor, foi transmitida com louvor, independente da religião de cada um. Axé aos integrantes do GP Artêros: a cabaça da existência de vocês já começou a dar frutos.


A cabaça da existência (crédito: focoincena.com.br)



Por Hugo Oliveira
  







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